Relato de Vida - Janderson Aparecido de Souza Ramos, o Zé do Trator

Janderson Aparecido de Souza Ramos, 21 anos, é aluno do ProJovem Campo - Saberes da Terra da Comunidade Rural Palestina, localizada no município de Mauriti, distante a 541 quilômetros de Fortaleza, capital do Ceará. Cursou até o 5° ano do Ensino Fundamental e era dependente químico e alcóolatra, hoje recuperado, o jovem tem se sentido motivado a perseverar em sua nova condição e nos conta que o programa tem contribuído com sua nova caminhada.

Janderson é muito aplicado aos seus estudos e escreveu o texto "Zé do Trator" na aula de Linguagens e Códigos, ministrada pela professora Ilza, que nos enviou o texto.

"Zé do Trator" nos conta uma de suas experiências de vida e nos dá uma lição de solidariedade. As expressões do texto não foram alteradas, revelando as descobertas da escrita que este jovem tem conquistado.

Olá! Meus queridos amigos do Projovem Campo - Saberes da Terra.

Meu nome é Zé do Trator. Nasci no sertão do Ceará.
Meu pai Sebastião me ensinou essa profissão e com ele aprendi muitas coisas, agradeço muito a ele por ter me ensinado que para viver neste mundo precisamos ser: educados, humildes, corajosos e persistentes. Que Deus o tenha!
Vou lhes contar um trisquinho de minha história. Como já lhes disse, sou o Zé do Trator. E vivo arando a terra.
Semana passada chegou-me um amigo e me disse que precisava tombar sua terrinha. Porque o inverno já se aproximava, mas agora no momento não tinha nenhum tostão para me pagar.
– Tudo bem Seu João. Irei até lá e fazerei o serviço e depois nos acertamos.
E no dia seguinte fui a terra de Seu João e fiz o combinado. No dia seguinte me chegou um outro amigo, Seu Chico, que tinha também um pedaço de chão que precisava ser tombada, também para o plantio.
– Oi Zé! Tudo bom?
– Tudo Seu Chico. O que precisas?
– Zé, eu tô precisando de fazer minha terrinha, mas eu só tenho a metade do dinheiro. Porque dias atrás tive que comprar uns remédios de meu filho Gustavo, e o que me sobrou foi só isto.
– Tudo bem Seu Chico pode ficar despreocupado, estarei lá!
E no dia seguinte, lá vai o Zé todo contente e disposto a ajudar o seu amigo. Terminou o seu trabalho, cumpriu sua palavra como de costume e voltou para casa normalmente como uma pessoa simples e comum!
Lá chegando, como de costume, abraçou seu filho Marquinhos e deu um beijo em sua esposa Suzany.
Assim, Zé ia levando a sua vida humildemente e tinha muito prazer em ajudar o seu próximo. Com o passar do tempo, seu filho Marquinhos adoeceu e Zé estava desesperado por não ter dinheiro o suficiente para a medicação do seu filho Marquinhos. Pois os tratamentos lhe saíram muito caros. E Zé teria que vender sua única ferramente de trabalho. Que embora tivera ganhado de seu pai, que lhe ensinara a profissão desde mocinho: o seu trator. E Zé gostava muito desse trator.
Mas para um filho nesta situação, qualquer esforço lhe valeria a pena. Dias seguintes, Zé ia passando triste com o seu trator, com aquele desgosto e bem desanimado por ser seu último dia em cima daquilo que ele mais gostava. Porque ia ajudar na recuperação do seu único filho Marquinhos, afinal de contas era mais que sua obrigação ajudar seu filho. Ainda menor de idade com apenas 09 anos e sete meses. Mas Zé viveria do quê, se se desfizer de seu trator? Mas não! Não pensou duas vezes.
Um rapaz que via passando, jovem filho de um fazendeiro rico da cidade que Zé conhecia desde pequeno. E Zé fazia muito tempo que não o via. Quando viu Zé vindo em sua direção distraído e chateado, gritou por Zé duas vezes.
– Zé! Ô Zé! Lembra-se de mim?
– Lembro sim! Como você cresceu, hein rapaz!
– Zé estou percebendo algo de errado em você. O que houve?
– É rapaz, meu filho está doente e eu vou ter que vender meu único meio de sobrevivência, meu trator.
– Zé você lembra quando nós era pobre e que muitas vezes você ajudou a gente neste mesmo trator?
– Lembro.
– Pois pode ficar despreocupado. Eu mesmo vou dar um jeito nesta situação
E perguntou a Zé, quanto era preciso para ajudar. Zé, meio que sem graça disse o valor ao rapaz. Para vocês vê como Deus é justo.
O rapaz disse: – Estou indo no banco agora, Zé vou lhe retribuir o que você fez por nós. E não vai ser preciso vender o seu trator não. Certo, Zé?
– Certo!
Zé ficou muito feliz, pagou o tratamento de seu filho Marquinhos que ficou bom.
E Zé voltou a ter a sua vida e é claro sempre ajudando o próximo. Porque a educação, o respeito e a humildade é a chave da sobrevivência.


Janderson Aparecido de Souza Ramos
Palestina, Mauriti - CE





Janderson e sua mãe Leonice.

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2 Response to "Relato de Vida - Janderson Aparecido de Souza Ramos, o Zé do Trator"

  1. Anônimo says:

    Conheço de perto este caso, sou Educador do Campo, do qual sou Professor em Palestina-Mauriti-CE. Este jovem está descobrindo outro mundo através do PROJOVEM CAMPO.Tem evoluido a cada aula, inclusive é muito participativo, não falta às aulas.

    É o resultado deste belo Programa que o Governo Federal, Estadual, apoiado pelo Governo Municipal estão desnvolvendo.

    José Odilânio Jacó
    Técnico em Agropecuária

    Secretaria de Educação de Mauriti says:

    Caríssimos Senhores Coordenadores do Projovem Campo Saberes da Terra,

    A iniciativa de divulgação da produção textual do Janderson nos deixa muito felizes e eleva a auto estima daqueles que por motivos diversos deixaram de estudar e hoje partem em busca do tempo perdido.
    Parabéns!

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